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Trotes e redes sociais

A exposição da história do desaparecimento do irmão de Dona Cleide, através do CETV, já a levou a diversos caminhos errados na busca pelo irmão. A família foi, e ainda é, vítima de muitos casos de trote. “As pessoas assistem o programa  e distorcem as informações, nos dá esperança, mas nunca chegou nada real. Claro que tem algumas pessoas que realmente querem ajudar, mas muitos só querem fazer maldade mesmo”, afirma.

 

O uso das redes sociais, como veículo de divulgação de informações de um desaparecimento, também pode potencializar as buscas. A família do jovem João (nome fictício), 19 anos, conseguiu encontrá-lo quatro dias depois do seu sumiço e usou de aplicativos, como Instagram e Facebook, na busca pelo jovem. Por causa da vasta divulgação, assim como no caso de dona Cleide, a família de João também foi vítima de trotes. “Dificultou bastante as buscas. Além do cansaço das pessoas, tinha a frustração de não encontrar. Quando o caso saiu na televisão houve telefonemas sugerindo que alguém estaria com ele e iriam colocar fogo no corpo se não houvesse negociação, coisas horríveis para acontecerem em um momento tão delicado”, conta Diane Xavier, prima de João que acompanhou de o caso de perto.

 

Apesar dos trotes, a internet foi a grande aliada da família de João. O estudante saiu de casa em uma noite de sexta-feira para uma festa na sua cidade, Russas, localizada no Vale do Jaguaribe, interior do Ceará, e não voltou para a casa no dia seguinte. Imediatamente a família foi a Delegacia de Russas e prestou BO, mas o que realmente fez diferença no caso foi a mobilização nas redes sociais. João foi encontrado por um caminhoneiro em Pernambuco, quase chegando na cidade de Recife, muito assustado e desorientado. O motorista reconheceu o jovem pelas fotos que estavam sendo divulgadas na internet. “As redes sociais realmente ajudaram a localizá-lo, foi uma corrente muito grande, inúmeras pessoas que nem o conheciam compartilhando e ajudando a procurar na cidade e em diversos outros lugares”, relembra Diane.

 

Muitos grupos no Facebook direcionados a divulgação de pessoas desaparecidas dão suporte para as famílias. Essa prática está ficando cada vez mais comum, um exemplo disso é o grupo “Divulgando Pessoas Desaparecidas, Desencontradas e Prevenções”, criado por Ana Paula Saldanha, 41 anos, que mora em Fortaleza e procura seu irmão, Amadeu Saldanha Neto, desaparecido desde 2011. A página conta com quase 6 mil membros e vem criando parcerias com páginas e ONG’s de todo o Brasil,  como a “SOS desaparecidos” de Santa Catarina e a ONG paulista “Mães da Sé”.

 

Ana Paula revela que sempre acompanha os casos e, geralmente, entra em contato com a família que procura o grupo para orientar nas divulgações e no procedimento das primeiras 24 horas, tudo de maneira voluntária. “Procuro manter as informações atualizadas. Sempre coloco a fonte e tenho muito cuidado com cada informação repassada, para que não venha prejudicar nenhuma das partes”, garante.
 

"As pessoas assistem o programa  e distorcem as informações, nos dá esperança, mas nunca chegou nada real"

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Postagem divulgada nas redes sociais da família de João.

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Amadeu Saldanha Neto, irmão de Ana Paula Saldanha.

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